domingo, 19 de setembro de 2010

Caetano Veloso - London London

Em 1969, a Ditadura Militar expuslou os cantores Caetano Veloso (1942/) e Gilberto Gil (1942/) do Brasil, sendo que os dois se exilaram na Inglaterra. Foi nessa fase que Caetano Veloso compôs "London London":

I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go
While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good at least, to live and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky (2x)
I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok

Green grass, blue eyes, grey sky (2x)
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

TRADUÇÃO

Londres, Londres
Estou vagando, dando umas voltas, sem direção
Estou solitário em Londres, Londres é amável assim
Cruzo as ruas sem medos
Todo mundo deixa o caminho livre
Sei que não conheço ninguém aqui prá dizer olá
Sei que eles deixam o caminho livre
Estou solitário em Londres, sem medos
Estou vagando, dando umas voltas, sem direção
Enquanto meus olhos Saem procurando discos voadores pelos céus
Oh Domingo, segunda, Outono, passam por mim
E as pessoas passam apressadas com tanta paz
Um grupo chega a um policial
Ele parece tão satisfeito em poder atendê-los
É bom pelo menos estar vivo e eu concordo ...
Ele parece tão satisfeito, pelo menos
E é tão bom viver em paz
E Domingo, segunda, os anos, e eu concordo ...

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu
Não escolho nenhum rosto para olhar, não escolho caminho
Acontece apenas de eu estar aqui e estar tudo bem

Grama verde, olhos azuis, céu cinza
Deus abençoe a dor silenciosa e a felicidade
Eu vim para dizer sim e digo

Enquanto meus olhos Saem procurando por discos voadores no céu

Londres & Paris

Muitas vezes, para entendermos a História, temos que nos apoiar em outras ciências. Uma delas é a Geografia.
Não sei vocês, mas eu não consigo visualizar um texto histórico (e eu adoro visualizar) sem ter um mapa para me apoiar. Por isso, uso muito os mapas e, atualmente, também o Google Maps, essa ferramenta fantástica, que nos permite compreender melhor o mundo em que vivemos, geograficamente falando.
Essa imagem que postei aqui mostra um pedacinho da Europa, mais precisamente a Europa Ocidental, onde podemos ver pelo menos cinco capitais européias: Londres (Inglaterra), Paris (França), Bruxelas (Bélgica), Amsterdan (Holanda) e Luxemburgo (Luxemburgo).
Duas delas, Londres e Paris, são das que mais se ouve falar, aqui no Brasil. Muitos brasileiros moram em Londres e Paris, ou já visitaram ao menos uma delas. E as duas possuem diversas famas, como cidades de primeiro mundo, centros onde tudo acontece.
Mas, e como essas cidades chegaram a ter essa fama?
Londres se chamava Londinium e foi fundada pelos romanos, no ano 43 da Era Cristã.
Paris é mais antiga: os gauleses da tribo dos parisii criaram Oppidum em 300 a.C. e, mais tarde, essa vila foi chamada de Lutetia e finalmente Paris (de Parisii).

De uma forma ou de outra, Londres e Paris tiveram a ver com os romanos. Depois, outros povos vieram viver nessas regiões: os anglos e os saxões (Inglaterra) e os francos (França). Foram esses povos que marcaram a formação cultural desses países e dessas cidades. Para nós, brasileiros, a língua francesa soa parecida, porque o português, assim como o francês, possuem elementos da língua latina, falada pelos romanos. O inglês não possui essa semelhança...

Tanto Londres como Paris não possuem praias, pois ficam distantes do litoral, como você pode ver na foto de satélite. Londres fica numa ilha (Grã-Bretanha) e Paris fica no continente europeu. Para chegar de um local a outro, é necessário que se atravesse o Canal da Mancha (em azul). Mas, desde 1994, essa travessia ficou mais fácil, com a construção do Eurotúnel, que liga Coquelles (França) a Cheriton (Inglaterra).

E é nesse pedacinho da Europa que Eric Hobsbawm situou seu livro "A Era das Revoluções". É óbvio que a Revolução Industrial não aconteceu somente em Londres e nem a Revolução Francesa ficou isolada em Paris. mas, como centros administrativos das duas nações, provavelmente foram dessas duas cidades que se irradiaram as notícias ( e mudanças) que atingiram o mundo todo...

O Mundo na Década de 1780 - I

Como era o mundo no século XVIII, mais precisamente na década de 1780? O historiador Eric Hobsbawm parece ter feito essa pergunta, ao começar o livro "A Era das Revoluções", sendo que o primeiro capítulo, da primeira parte, chama-se justamente "O Mundo na Década de 1780".
Ele começa o texto com uma afirmação:

"A primeira coisa a observar sobre o mundo na década de 1780 é que ele era ao mesmo tempo menor e muito maior que o nosso."

Ele explica essa afirmação pelo fato de que, em fins do século XVIII, conhecia-se muito pouco do mundo. É certo que já se haviam descoberto todos os continentes, inclusive a Oceania. Mas por outro lado, esse mundo era pouco conhecido, sendo que as pessoas viviam principalmente no litoral, e haviam poucos mapas. Esse mundo de então, além de "menor", era menos povoado que hoje, tendo cerca de um terço da população atual. E essa população, além de tudo, era menor no sentido literal da palavra, pois eram comprovadamente mais baixos que as pessoas de hoje.

Por outro lado, esse mundo era "maior" que o atual, se formos pensar nas dificuldades que as pessoas tinham, para se locomover e se comunicar:

"...para a grande maioria dos habitantes do mundo as cartas eram inúteis, já que não sabiam ler, e o ato de viajar - exceto talvez o de ir e vir dos mercados - era absolutamente fora do comum."

A maior parte do transporte de mercadorias e pessoas era feito por água (salgada e doce). Então, era mais fácil ir-se de Londres a Lisboa (por mar) que de Londres a Edimburgo (por terra). Se levarmos em conta as regiões onde chovia muito, deixando estradas enlameadas, a dificuldade aumenta. E o sistema de comunicações não era muito melhor, visto que as cartas e documentos viajavam nesses navios e carruagens. Mas, para quem se escreveria?

"A noticia da queda da Bastilha chegou a Madri em 13 dias; mas em Péronne, distante apenas 133 quilómetros da capital francesa, "as novas de Paris" só chegaram no final do mês."

Segundo Hobsbawm, a maioria das pessoas que viveu naquela época, cresceu e morreu sem ter saído de sua região, e até mesmo os "desbravadores" não conheciam tudo, visto que também eram limitados por diversos fatores, desde a dificuldade para se locomover até a existência de povos inimigos e até mesmo hostis no caminho.
Até mesmo os movimentos migratórios, tão comuns hoje em dia, eram inexistentes então. Sair de sua região e ir para outra não era algo comum, que a maioria das pessoas fizesse.
Na verdade, nem havia como ter grandes movimentos migratórios, visto que a população européia, principalmente, nem sequer vivia em grandes concentrações. A maioria da população era basicamente rural, vivendo longe dos grandes centros, que nem eram tão grandes assim.

"A palavra "urbano" é certamente ambígua. Ela inclui as duas cidades européias que por volta de 1789 podem ser chamadas de genuinamente grandes segundo os nossos padrões - Londres, com cerca de um milhão de habitantes, e Paris, com cerca de meio milhão - e umas 20 outras com uma população de 100 mil ou mais: duas na França, duas na Alemanha, talvez quatro na Espanha, talvez cinco na Itália (o Mediterrâneo era tradicionalmente o berço das cidades), duas na Rússia, e apenas uma em Portugal, na Polónia, na Holanda, na Áustria, na Irlanda, na Escócia e na Turquia européia."

Mas se engana quem acha que não houvessem inúmeras cidades na Europa. Elas apenas não eram populosas, mas tinham todas as características de uma pequena cidade do interior, desde governo e religião, órgãos públicos, mercados e toda sorte de atividades e problemas que possui uma cidade provinciana.

"A cidade provinciana ainda pertencia essencialmente à sociedade e à economia do campo. Além de se refestelar sobre os camponeses vizinhos, ocupava-se (relativamente com poucas exceções) de muito pouco mais, exceto de lavar sua própria roupa. Suas classes média e profissional eram constituídas pelos negociantes de trigo e de gado, os processadores de produtos agrícolas, os advogados e tabeliões que manipulavam os assuntos relativos ao patrimônio dos nobres ou os intermináveis litígios que são parte integrante da vida em comunidades proprietárias de terras, os empresários mercantis que exploravam os empréstimos aos fiandeiros e tecelões dos campos, e, por fim, os mais respeitáveis representantes do governo, o nobre e a Igreja."

Percebe-se, por este trecho, que a maioria das cidades provincianas de então, dependia economicamente da zona rural. Era ela que movimentava a cidade, em todos os sentidos.

"O problema agrário era portanto o fundamental no ano de 1789, c é fácil compreender por que a primeira escola sistematizada de economistas do continente, os fisiocratas franceses, tomara como verdade o fato de que a terra, e o aluguel da terra, era a única fonte de renda líquida."

Assim, do ponto de vista da economia agrária, Hobsbawm "dividiu" o mundo conhecido em três grandes regiões:

1) As Américas, onde a maioria das fazendas, haciendas, estâncias, eram povoadas por poucos europeus que comandavam, e por inúmeros índios, negros e mestiços, que trabalhavam, geralmente em regime de escravidão, para plantar "açúcar, em menos quantidade o café e o tabaco, tintas e, a partir da revolução industrial, sobretudo o algodão";

2) O Leste Europeu, chamado de "região de servidão agrária". Essa região incluía a Turquia européia, os Balcãs, o norte da Itália, a região do Báltico, a Rússia e a Espanha, entre outros. Ali, praticava-se uma economia praticamente feudal, com camponeses sendo explorados por proprietários de terra de origem nobre. Nessa região, "a agricultura servil produzia basicamente culturas de exportação para os países do Ocidente: trigo, fibra de linho, cânhamo e produtos florestais usados principalmente na fabricação de navios";

3) "Somente algumas áreas levaram o desenvolvimento agrário mais adiante, rumo a uma agricultura puramente capitalista. A Inglaterra era a principal delas. Lá, a propriedade de terras era extremamente concentrada, mas o agricultor típico era o arrendatário com um empreendimento comercial médio, operado por mão-de-obra contratada."

O mundo estava prestes a mudar, mas a maioria das pessoas não percebia isso, visto que o foco da mudança, a região da Inglaterra e da França, ainda era pequeno, em relação ao todo. E, mesmo que os fisiocratas franceses não estivessem de todo certos, foram as mudanças na economia agrária que permitiram essa mudança.

"Tecnicamente a agricultura europeia era ainda, com exceção de algumas regiões adiantadas, duplamente tradicional e assustadoramente ineficiente. Seus produtos eram ainda os tradicionais: centeio, trigo, cevada, aveia e, na Europa Oriental, trigo sarraceno (alimento básico da população), gado de corte, cabras e seus laticínios, porcos e aves, uma certa quantidade de frutas e legumes, vinho, e algumas matérias-primas industriais como a lã, a fibra de linho, cânhamo para cordame, cevada para a produção de cerveja etc. A alimentação da Europa era essencialmente regional. Os produtos de outros climas eram ainda raridades próximas do luxo, exceto talvez o açúcar, o mais importante alimento importado dos trópicos e cuja doçura provocou mais amargura humana do que qualquer outro."

* Síntese: páginas 23 a 38 - Continua
* Imagem: Retrato do Rei Luís XVI (França), pintado por Antoine-François Callet (1741/1823), em 1788.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Era das Revoluções

O livro "A Era das Revoluções" foi escrito por Eric Hobsbawm em 1962, e faz uma análise do período histórico compreendido entre 1789 e 1848, que ele chama de "dupla revolução" (referência às revoluções na França e na Inglaterra).

Este livro traça a transformação do mundo entre 1789 e 1848 na medida em que essa transformação se deveu ao que aqui chamamos de "dupla revolução": a Revolução Francesa de 1789 e a revolução industrial (inglesa) contemporânea.

Na Introdução, Hobsbawm já mostra algumas das mudanças que o mundo sofreu, após essa "dupla revolução":

As palavras são testemunhas que muitas vezes falam mais alto que os documentos. Consideremos algumas palavras que foram inventadas, ou ganharam seus significados modernos, substancialmente no período de 60 anos de que trata este livro. Palavras como "indústria", "industrial", "fábrica", "classe média" ', "classe trabalhadora", "capitalismo" e "socialismo". Ou ainda "aristocracia" e "ferrovia", "liberal" e "conservador" como termos políticos, "nacionalidade", "cientista" e "engenheiro", "proletariado" e "crise" (econômica). "Utilitário" e "estatística", "sociologia" e vários outros nomes das ciências modernas, "jornalismo" e "ideologia", todas elas cunhagens ou adaptações deste período *. Como também "greve" e "pauperismo".

Segundo ele, essa foi a "maior transformação da história humana desde os tempos remotos quando o homem inventou a agricultura e a metalurgia, a escrita, a cidade e o Estado."

Mas ele também lembra que essa "dupla revolução" não foi geral, e sim específica:

A grande revolução de 1789-1848 foi o triunfo não da "indústria" como tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, mas da classe média ou da sociedade "burguesa" liberal; não da "economia moderna" ou do "Estado moderno", mas das economias e Estados cm uma determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns trechos da América do Norte), cujo centro eram os Estados rivais e vizinhos da Grã-Bretanha e França.

Hobsbawm procura explicar o porquê dessa região ter reunido as características necessárias para realizar essa "dupla revolução", e talvez esse seja o ponto principal do livro, visto que a compreensão dos antecendentes torna mais fácil a visualização dos fatos marcantes...

O livro se divide em duas partes:

I - Evolução

a) O Mundo na Década de 1780
b) A Revolução Industrial
c) A Revolução Francesa
d) A Guerra
e) A Paz
f) As Revoluções
g) O Nacionalismo

II - Resultados

a) A Terra
b) Rumo a Um Mundo Industrial
c) A Carreira Aberta ao Talento
d) Os Trabalhadores Pobres
e) A Ideologia Religiosa
f) A Ideologia Secular
g) As Artes
h) A Ciência
i) Conclusão: Rumo a 1848

Eric Hobsbawm


Eric John Earnest Hobsbawm nasceu em Alexandria (Egito), em 1917. De nacionalidade britânica e ascendência judia, Eric viveu parte de sua vida em Viena (Áustria) e Berlim (Alemanha). Após perder seus pais, foi viver com seus tios em Londres (Inglaterra), em 1933, formando-se em História pela Universidade de Cambridge. Fluente em quatro idiomas, Hobsbawm fez parte da inteligência no exército britânico, durante a Segunda Guerra Mundial (1939/1945).

Foi membro do grupo de historiadores marxistas britânicos, como Christopher Hill, Rodney Hilton e Edward Palmer Thompson que, nos anos 60, diante da desilusão com o estalinismo, buscaram entender a história da organização das classes populares em termos de suas lutas e ideologias, através da chamada "História Social".

Eric Hobsbawm procurou analisar a história dos trabalhadores e os diversos aspectos que a envolvem, em quatro obras importantes:

1) A Era das Revoluções (1789/1848);
2) A Era do Capital (1848/1875);
3) A Era dos Impérios (1875/1914);
4) A Era dos Extremos (1917/1991).