quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Revolução Francesa - Parte I



Imagem: Demolição da Bastilha, 1789, de Hubert Robert (1733/1808)

Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. (Eric Hobsbawm)

E qual era essa "política" e essa "ideologia"? As idéias pregadas no Iluminismo podem ser resumidas em apenas uma palavra: "liberdade". Segundo Hobsbawm, até 1800, essa palavra significava apenas o contrário de "escravidão". Mas, com o advento da Revolução, ela passou a ter um novo sentido...
De fato, se formos apenas diferenciar "liberdade" de "escravidão", então todo e qualquer cidadão que não fosse escravo, deveria estar satisfeito, por ser "livre". Mas que liberdade era essa, onde os governantes podiam tudo e o povo não podia nada?
A simples frase "a vontade do povo é a vontade de Deus" não teria sentido, pois a "vontade de Deus" era manifestada pelos membros da Igreja e, acima de todos, do rei.

Hobsbawm lembra que a Revolução Francesa não foi a única do período, mas foi a que teve maior alcance, influenciando as revoluções na América Latina e até na Índia. E os ideias que ela pregou foram tão radicais e profundos, que têm repercussão até hoje.

A França, no século XVIII, era a segunda nação mais populosa da Europa (só perdia para a Rússia), era forte nas questões econômicas (em alguns pontos, superava a Grã-Bretanha) e era uma das mais tradicionais monarquias européias, sendo que muitos costumes e regras de etiqueta surgiram ali, e depois se "espalharam" para outras monarquias. É claro que as diferenças sociais também deveriam ser mais agudas...

Para entendermos o cerne da Revolução Francesa, tentemos compreender o significado da expressão "reação feudal". Para exemplificar, observemos um nobre daquela época:



Acima, temos um quadro de 1779, pintado por Joshua Reynolds (1723/1792). Nele, vemos Louis Philippe Joseph d'Orléans , Duque de Chartres e, em seguida, Duque de Orleans ( 1785 - 1792 ), que mudou seu nome para Philippe Egalité depois de 1792.

Entre 23 milhões de franceses, apenas 400 mil formavam a nobreza, e Louis Philippe estava entre os de "primeira grandeza". Um nobre, naquele tempo, não pagava impostos, não trabalhava e ainda recebia tributos feudais. Esses nobres não possuíam experiência administrativa e nunca pensaram em "economizar" ou "gastar pouco". Essas, eram idéias que nem sequer passavam pela cabeça de pessoas "bem nascidas". Como não trabalhavam (o trabalho nem era bem visto entre a nobreza), gastavam o dinheiro que recebiam de suas propriedades feudais, e cada vez mais. Como muitos nobres viviam na Corte (na capital), não estavam no dia-a-dia de seus servos, que viviam apenas para manter seus luxos. E os altos postos do Governo estavam tomados por essa classe, que os ocupava por berço, e não por competência...

Quem não estava satisfeito com essa situação era o camponês e a classe média, que juntas representavam 80% da população. Além dos impostos sempre crescentes, essa massa também sofria com a fome, a má administração, a inoperância governamental e até mesmo com a inércia, pois a situação social estava "cristalizada".

O envolvimento da França na Guerra da Independência dos Estados Unidos foi a gota d'água que faltava. O Estado francês saiu dessa Guerra em prejuízo, e tentou reverter a situação "apertando" ainda mais o "cinto" dos 80% de sofredores franceses, sem mexer nos privilégiso dos 20% representantes da Nobreza e do Clero...Segundo palavras de Hobsbawm:

A guerra e a dívida - a guerra americana e sua dívida - partiram a espinha da monarquia.

Síntese: páginas 83 a 90 (continua)

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