terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Revolução Industrial - Parte I


Após fazer uma análise do período em que ocorreu a "dupla revolução", Eric Hobsbawm se dedica, em seu livro, a analisar a Revolução Industrial. Ele justifica sua escolha pelo fato de que, apesar da Revolução Industrial só adquirir repercussão mundial depois de 1830, teve detalhes que antecederam a Revolução Francesa.

"Foi somente na década de 1830 que a literatura e as artes começaram a ser abertamente obsedadas pela ascensão da sociedade capitalista, por um mundo no qual todos os laços sociais se desintegravam exceto os laços entre o ouro e o papel-moeda (no dizer de Carlyle)."

Hobsbawm utiliza o termo "explodir", para se referir ao início dessa Revolução porque, segundo ele, foi dessa forma que tudo começou, antes mesmo do "assalto à Bastilha". Mas, na verdade, é difícil determinar-se um princípio e um fim para essa Revolução:

"De fato, a revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se "completou", pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma deste então."

Dessa análise inicial, temos dois fatos incontestáveis: a) a Revolução Industrial teve início na Inglaterra; e b) ela ocorreu por volta da década de 1780, pouco antes da eclosão da Revolução Francesa.
Temos aí o lugar e a época em que teve início essa Revolução. Agora, é importante compreender como se deu a mesma.

Primeiramente, a Revolução Industrial não foi uma revolução científica pois, segundo o autor, os franceses estavam mais evoluídos nessas questões que os ingleses:

"O economista da década de 1780 lia Adam Smith, mas também - e talvez com mais proveito -os físiocratas e os contabilistas fiscais franceses, Quesnay, Turgot, Du-pont de Nemours, Lavoisier, e talvez um ou dois italianos. Os franceses produziram inventos mais originais, como o tear de Jacquard (1804) - um aparelho mais complexo do que qualquer outro projetado na Grã-Bretanha - e melhores navios."

Ele desmistifica a invenção de James Watt, a máquina a vapor (1784) que não exigiu nenhuma inovação no pensar, pois os conhecimentos necessários para essa invenção já existiam há tempos.

"Mas as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos como os supremos objetivos da política governamental."

Nesse trecho, o autor nos aponta dois motivos que levaram à Revolução Industrial, anteriores à própria invenção da máquina. O fato de um rei ser obrigado a submeter-se à lei, e o próprio governo estabelecer "lucro" e "desenvolvimento" como objetivos a serem alcançados, já nos mostra que os fatores nem sempre estiveram postos de maneira simplificada.
Os Decretos das Cercas (Enclosure Acts) também demonstraram que a mentalidade inglesa estava indo em direção oposta ao resto do continente, bem antes da Revolução se tornar visível, pois esses "cercamentos" acabaram forçando a migração de milhares de camponeses para as cidades, onde acabaram sendo aproveitados como mão-de-obra pelas nascentes indústrias.

"A agricultura já estava preparada para levar a termo suas três funções fundamentais numa era de industrialização: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento; fornecer um grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; e fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia."

Ou seja, como afirma Hobsbawm, logo adiante: "a política já estava engatada ao lucro". Essa singela frase nos mostra como foi (e é) importante haver uma mentalidade capitalista, na mudança de uma economia feudal para outra de cunho capitalista e industrial.

Outro detalhe importante foi a criação de uma indústria que se tornasse viável devido à sua necessidade, e a Inglaterra possuía essa indústria: a têxtil.

"...a dianteira no crescimento industrial foi tomada por fabricantes de mercadorias de consumo de massa - principalmente, mas não exclusivamente, produtos têxteis' -porque o mercado para tais mercadorias já existia e os homens de negócios podiam ver claramente suas possibilidades de expansão."

Tendo a máquina, a mentalidade, a mão-de-obra, a produção colonial de algodão (para a indústria têxtil) e o apoio governamental, a Inglaterra apenas teve que dar início a um processo que não fora planejado, mas que "explodiu" e não parou mais, até os dias de hoje...

Síntese: páginas 49 a 57 (continua)
Imagem: reconstiutição da máquina a vapor de James Watt, criada em 1784.

Um comentário:

  1. Parabens por salientar e expor de forma justa e cientifica o fato de a Franca ter muito mais condicoes de sair na frente. Mas os inglees detinham em analises e estudos ja ajustados e atrelados a sua forma de pensar copiando o pensamento grego de sistematizacao das coisas. Os problemas internos da Franca lhe colocaram atras da Inglaterra apesar de muito maior desenvolvimento cientifico e inventivo. Os franceses sempre e desde cedo aprenderam a pensar mas o ingleses colocaram a mao na massa com as condicoes ja estabelecidas pelas rotas de comercios e colonias muito bem e sistematicamente estabelecidas.Oddi Vieira

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