terça-feira, 26 de outubro de 2010
O Ducado de Lancaster
Eduardo III (1312/1377) foi um dos mais famosos reis ingleses. Pertencente à Dinastia dos Plantagenetas (1154/1399), esse Rei provocou o início da Guerra dos Cem Anos (1337/1453) e teve 11 filhos, entre eles João e Edmundo, que deram origem às Famílias Lancaster e York.
João de Gaunt (1340/1399) foi o sexto filho de Eduardo III e nasceu na cidade belga de Gaunt. Em 1362, tornou-se Duque de Lancaster, ao se casar com sua prima, Branca de Lancaster. Teve início, assim, a Casa de Lancaster, cujo símbolo era uma rosa vermelha (figura).
Edmundo de Langley (1341/1402) foi o sétimo filho do Rei Eduardo III. Em 1385, ele foi feito Duque de York, cujo símbolo era uma rosa branca.
Os reis da Dinastia Plantageneta foram substituídos pelos Reis da Dinastia Lancaster, de 1399 a 1461. De 1461 a 1470, a Inglaterra foi governada por um York. Em 1470, voltaram ao poder os Lancaster, até 1471. Em 1471, voltaram os York, até 1485. Esse período de lutas e guerras entre Lancaster e York, ficou conhecido como "Guerra das Duas Rosas" (1455/1485).
João de Gaunt criou o Ducado de Lancaster (mapa), também conhecido como Lancashire. Foi essa região que se notabilizou, no início da Revolução Industrial como grande produtora e exportadora da lã inglesa, que acabaria dominando o mundo, e impulsionando a primeira fase da industrialização mundial...
A Revolução Industrial - Parte II
"...durante todo o período de que trata este livro, a escravidão e o algodão marcharam juntos."
Dessa forma, Hobsbawm define a segunda parte do capítulo reservado à Revolução Industrial.
Tecendo breves comentários sobre a escravidão, ele se aprofunda mais na questão algodoeira, e na criação de um "triângulo" entre a Inglaterra, as Américas e a Índia.
Em relação à questão algodoeira, o autor faz uma análise:
"O algodão, portanto, fornecia possibilidades suficientemente astronômicas para tentar os empresários privados a se lançarem na aventura da revolução industrial e também uma expansão suficientemente rápida para torná-la uma exigência. Felizmente ele também fornecia as outras condições que a tornaram possível."
Essas condições, segundo ele, se relacionam com a utilização de máquinas, criação de mercados consumidores e a "necessidade" de se consumir esses produtos, o que fez com que a indústria algodoeira crescesse enormemente.
"Os novos inventos que o revolucionaram - a máquina de fiar, o tear movido a água, a fiadeira automática e, um pouco mais tarde, o tear a motor - eram suficientemente simples e baratos e se pagavam quase que imediatamente em termos de maior produção."
Sobre a América Latina, Hobsbawm resume:
"A América Latina veio realmente depender de importações britânicas durante as guerras napoleônicas e, depois que se separou de Portugal e Espanha, tornou-se quase que totalmente dependente economicamente da Grã-Bretanha, sendo afastada de qualquer interferência política dos seus possíveis competidores europeus."
E sobre a Índia:
"A índia foi sistematicamente desindustrializada e passou de exportador a mercado para os produtos de algodão da região de Lancashire: em 1820, o subcontinente adquiriu somente 11 milhões de jardas; mas por volta de 1840 já adquiria 145 milhões."
E mais:
"Isto não era meramente uma extensão gratificante dos mercados de Lancashire. Era um grande marco na história mundial. Pois desde a aurora dos tempos a Europa tinha sempre importado mais do Oriente do que exportado para lá; porque havia pouca coisa que o Oriente necessitava do Ocidente em troca das especiarias, sedas, chitas, jóias etc. que lhe enviava. Os panos de algodão da revolução industrial inverteram pela primeira vez esta relação, que tinha até então se mantido em equilíbrio por uma mistura de exportações de lingotes e roubo."
Hobsbawm é claro quando relata essa inversão entre o Ocidente e Oriente, e a Inglaterra torna-se a primeira nação ocidental a exportar produtos para o Oriente, em maior quantidade que os que importava. Podemos quase afirmar que o Capitalismo começa a torna-se realmente mundial, a partir da indústria algodoeira.
Mas ainda haviam os chineses...
"Somente os auto-suficientes e conservadores chineses ainda se recusavam a comprar o que o Ocidente, ou as economias controladas pelo Ocidente, oferecia, até que entre 1815 e 1842 comerciantes ocidentais, auxiliados pelas canhoneiras ocidentais, descobrissem uma mercadoria ideal que podia ser exportada em massa da Índia para o Extremo Oriente: o ópio."
A China seria cada vez mais subjugada pelo mercado do ópio durante o século XIX, até a eclosão da Guerra do Ópio, mais adiante...
Um exemplo de empresário que enriqueceu com a indústria algodeira foi Robert Owen:
"Em 1789, um ex-ajudante de um vendedor de tecidos, como Robert Owen, podia iniciar com um empréstimo de 100 libras em Manchester; por volta de 1809, ele comprou a parte de seus sócios nas fábricas de New Lanark por 84 mil libras em dinheiro vivo."
Síntese: páginas 57 a 62 (continua)
Imagem: mulheres negras (escravas), passando roupas de linho e/ou algodão no século XVIII
terça-feira, 19 de outubro de 2010
As Dinastias Reais Inglesas
Um detalhe no texto de Hobsbawm chama a atenção:
"Mas as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos como os supremos objetivos da política governamental."
Esse parágrafo nos deixa claro que o fato de os ingleses julgarem e executarem um rei, foi importante para que a Revolução Industrial ocorresse. Vejamos o porquê...
Antes de mais nada, sabemos que a figura dos reis surgiu junto com as sociedades, seja no Oriente Médio, na Europa, na África ou mesmo na distante Ásia. Um monarca com poderes ilimitados poderia ser um rei ou um imperador, dependendo do tamanho do território por ele governado.
E esse monarca, muitas vezes, tinha poder de vida e morte sobre seus súditos, sendo que seus poderes se confundiam, muitas vezes, com os poderes de Deus. Assim, nada havia a se fazer, a não ser obedecer cegamente as ordens reais, mesmo as mais absurdas. E tentar algo contra o rei seria o mesmo que tentar algo contra Deus...
Na Inglaterra, como em muitos lugares, a situação não era diferente. Reis sucediam-se no trono inglês formando Dinastias, e determinando os rumos que os ingleses deveriam seguir.
Em 1066, Guilherme, o Conquistador, deu início à Dinastia Normanda. Os normandos eram descendentes de vikings, que se fixaram na Normandia (território francês). Em 1066, Guilherme saiu da Normandia, se dirigiu à Inglaterra, e conquistou aquele país, tornando-se o rei dos ingleses.
A Dinastia Normanda durou de 1066 até 1153. Nesse ano, foi nomeado Henrique Plantageneta como sucessor de Estêvão, o último rei normando.
A Dinastia Plantageneta durou de 1154 (com Henrique II) até 1399 (com Ricardo II). O último Rei foi deposto por seu primo, membro da Família Lancaster. Ele tornou-se Henrique IV.
Mas os Lancaster (cujo símbolo era uma rosa vermelha), tiveram que disputar o trono com os York (cujo símbolo era uma rosa branca). Essa disputa, conhecida como Guerra das Duas Rosas, somente teve fim em 1485, quando os Tudor chegaram ao poder, unindo as duas famílias rivais.
A Família Tudor foi a que mais promoveu avanços na economia inglesa, até então. Seus mmebros ficaram famosos por seus problemas familiares, também:
1) Henrique VII (1457/1509) - reestruturou o Reino, organizou os impostos e a marinha inglesa;
2) Henrique VIII (1491/1547) - criou a religião anglicana, casou seis vezes e foi sucedido por três filhos;
3) Eduardo VI (1537/1553) - primeiro monarca protestante da Inglaterra, morreu jovem;
4) Joana Grey (1537/1554) - prima de Eduardo VI, governou apenas 9 dias;
5) Maria I (1516/1558) - conhecida por "Bloody Mary", tentou restabelecer o catolicismo na Inglaterra;
6) Elisabeth I (1533/1603) - a época de seu governo ficou conhecida como "Era de Ouro", devido ao fato da economia avançar, nesse período.
Elisabeth I morreu sem deixar herdeiros, e foi sucedida por seus primos, da Família Stuart, por duas vezes: entre 1603 e 1649 (Jaime I e Carlos I) e depois entre 1660 e 1707 (Carlos II, Jaime II, Maria II, Guilherme III e Ana).
O Rei Carlos I (1600/1649), o segundo Rei Stuart, notabilizou-se por sua tirania e por não se entender com o Parlamento. Assim, em 1628, ele ordenou que o mesmo fosse fechado, permanecendo assim durante 11 anos.
Mas, em 1640, ele reabriu o Parlamento, para tentar forçá-lo a aprovar a criação de novos impostos. O que aconteceu, durante dois anos, foi uma disputa crescente entre o Rei e o Parlamento, que acabou gerando uma Guerra Civil.
Essa Guerra terminou com a execução do Rei, acusado de alta traição, e a criação da República da Inglaterra, governada por Oliver Cromwell (1599/1658).
Imagem: retrato do Rei Carlos I, pintado por Anthony van Dyck (1599/1641), em 1636.
A Revolução Industrial - Parte I
Após fazer uma análise do período em que ocorreu a "dupla revolução", Eric Hobsbawm se dedica, em seu livro, a analisar a Revolução Industrial. Ele justifica sua escolha pelo fato de que, apesar da Revolução Industrial só adquirir repercussão mundial depois de 1830, teve detalhes que antecederam a Revolução Francesa.
"Foi somente na década de 1830 que a literatura e as artes começaram a ser abertamente obsedadas pela ascensão da sociedade capitalista, por um mundo no qual todos os laços sociais se desintegravam exceto os laços entre o ouro e o papel-moeda (no dizer de Carlyle)."
Hobsbawm utiliza o termo "explodir", para se referir ao início dessa Revolução porque, segundo ele, foi dessa forma que tudo começou, antes mesmo do "assalto à Bastilha". Mas, na verdade, é difícil determinar-se um princípio e um fim para essa Revolução:
"De fato, a revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se "completou", pois sua essência foi a de que a mudança revolucionária se tornou norma deste então."
Dessa análise inicial, temos dois fatos incontestáveis: a) a Revolução Industrial teve início na Inglaterra; e b) ela ocorreu por volta da década de 1780, pouco antes da eclosão da Revolução Francesa.
Temos aí o lugar e a época em que teve início essa Revolução. Agora, é importante compreender como se deu a mesma.
Primeiramente, a Revolução Industrial não foi uma revolução científica pois, segundo o autor, os franceses estavam mais evoluídos nessas questões que os ingleses:
"O economista da década de 1780 lia Adam Smith, mas também - e talvez com mais proveito -os físiocratas e os contabilistas fiscais franceses, Quesnay, Turgot, Du-pont de Nemours, Lavoisier, e talvez um ou dois italianos. Os franceses produziram inventos mais originais, como o tear de Jacquard (1804) - um aparelho mais complexo do que qualquer outro projetado na Grã-Bretanha - e melhores navios."
Ele desmistifica a invenção de James Watt, a máquina a vapor (1784) que não exigiu nenhuma inovação no pensar, pois os conhecimentos necessários para essa invenção já existiam há tempos.
"Mas as condições adequadas estavam visivelmente presentes na Grã-Bretanha, onde mais de um século se passara desde que o primeiro rei tinha sido formalmente julgado e executado pelo povo e desde que o lucro privado e o desenvolvimento econômico tinham sido aceitos como os supremos objetivos da política governamental."
Nesse trecho, o autor nos aponta dois motivos que levaram à Revolução Industrial, anteriores à própria invenção da máquina. O fato de um rei ser obrigado a submeter-se à lei, e o próprio governo estabelecer "lucro" e "desenvolvimento" como objetivos a serem alcançados, já nos mostra que os fatores nem sempre estiveram postos de maneira simplificada.
Os Decretos das Cercas (Enclosure Acts) também demonstraram que a mentalidade inglesa estava indo em direção oposta ao resto do continente, bem antes da Revolução se tornar visível, pois esses "cercamentos" acabaram forçando a migração de milhares de camponeses para as cidades, onde acabaram sendo aproveitados como mão-de-obra pelas nascentes indústrias.
"A agricultura já estava preparada para levar a termo suas três funções fundamentais numa era de industrialização: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento; fornecer um grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as cidades e as indústrias; e fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia."
Ou seja, como afirma Hobsbawm, logo adiante: "a política já estava engatada ao lucro". Essa singela frase nos mostra como foi (e é) importante haver uma mentalidade capitalista, na mudança de uma economia feudal para outra de cunho capitalista e industrial.
Outro detalhe importante foi a criação de uma indústria que se tornasse viável devido à sua necessidade, e a Inglaterra possuía essa indústria: a têxtil.
"...a dianteira no crescimento industrial foi tomada por fabricantes de mercadorias de consumo de massa - principalmente, mas não exclusivamente, produtos têxteis' -porque o mercado para tais mercadorias já existia e os homens de negócios podiam ver claramente suas possibilidades de expansão."
Tendo a máquina, a mentalidade, a mão-de-obra, a produção colonial de algodão (para a indústria têxtil) e o apoio governamental, a Inglaterra apenas teve que dar início a um processo que não fora planejado, mas que "explodiu" e não parou mais, até os dias de hoje...
Síntese: páginas 49 a 57 (continua)
Imagem: reconstiutição da máquina a vapor de James Watt, criada em 1784.
domingo, 10 de outubro de 2010
Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido
Para entendermos a diferença entre Inglaterra, Grã-Bretanha e Reino Unido, vamos utilizar diferentes bandeiras:
1) A primeira bandeira é a bandeira da Inglaterra. Ela é o símbolo daquele país desde a Idade Média e consiste na Cruz de São Jorge (vermelha) sobre fundo branco.Acredita-se que foi o Rei Eduardo III que oficializou São Jorge como patrono da Inglaterra, quando criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348.
2) a segunda bandeira é a de Santo André, padroeiro da Escócia. Segundo a lenda, Santo André foi crucificado em uma cruz em forma de X. Por isso é que sua cruz é um X e não a cruz tradicional. Ela foi adotada pelos escoceses em 1180, durante o reinado de Guilherme I. Em 1707, a Escócia foi anexada à Inglaterra, deixando de ser um Reino Independente. Mas a Union Flag já existia desde 1606, como nos mostra a figura.
3) a terceira cruz é a Cruz de São Patrício (ou Saint Patrick), padroeiro da Irlanda. Foi criada em 1783, como bandeira da Ordem de São Patrício. Em 1800, esse país se uniu à Inglaterra e Escócia, formando o Reino Unido.
4) a união das bandeiras de São Jorge, Santo André e São Patrício deu origem à Union Flag ou Union Jack, que é o nome dado à bandeira do Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte.
* A bandeira do País de Gales não aparece na Union Jack;
** Grã-Bretanha é o nome da ilha onde ficam a Inglaterra, Escócia e País de Gales.
Fonte de Pesquisa: http://peramblogando.blogspot.com/
1) A primeira bandeira é a bandeira da Inglaterra. Ela é o símbolo daquele país desde a Idade Média e consiste na Cruz de São Jorge (vermelha) sobre fundo branco.Acredita-se que foi o Rei Eduardo III que oficializou São Jorge como patrono da Inglaterra, quando criou a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348.
2) a segunda bandeira é a de Santo André, padroeiro da Escócia. Segundo a lenda, Santo André foi crucificado em uma cruz em forma de X. Por isso é que sua cruz é um X e não a cruz tradicional. Ela foi adotada pelos escoceses em 1180, durante o reinado de Guilherme I. Em 1707, a Escócia foi anexada à Inglaterra, deixando de ser um Reino Independente. Mas a Union Flag já existia desde 1606, como nos mostra a figura.
3) a terceira cruz é a Cruz de São Patrício (ou Saint Patrick), padroeiro da Irlanda. Foi criada em 1783, como bandeira da Ordem de São Patrício. Em 1800, esse país se uniu à Inglaterra e Escócia, formando o Reino Unido.
4) a união das bandeiras de São Jorge, Santo André e São Patrício deu origem à Union Flag ou Union Jack, que é o nome dado à bandeira do Reino Unido da Inglaterra, Escócia e Irlanda do Norte.
* A bandeira do País de Gales não aparece na Union Jack;
** Grã-Bretanha é o nome da ilha onde ficam a Inglaterra, Escócia e País de Gales.
Fonte de Pesquisa: http://peramblogando.blogspot.com/
O Mundo na Década de 1780 - III
Ainda detendo-nos na primeira parte do livro "A Era das Revoluções", de Hobsbawm, percebemos como, mesmo habitando em cidadelas provincianas, e conhecendo pouco do mundo, os homens de então ansiavam por um futuro promissor, onde não houvessem "amarras" visíveis ou invisíveis para o progresso. O texto do historiador faz-nos pensar em como deveriam ser esses homens, poucos em meio a uma multidão de milhões de pessoas que mal conheciam os arredores das cidades onde moravam...
Talvez, os que mais conhecessem lugares distantes fossem os soldados, que freqüentemente se encontravam em algum campo de batalha:
"...repetidos períodos de guerra geral: 1689-1713, 1740-8, 1756-63, 1776-83 e, chegando até o nosso período, 1792-1815."
Essas guerras tiveram nomes ou inimigos conhecidos: Revolução Gloriosa (1689 a 1713), Guerra da Sucessão Austríaca (1740 a 1748), Guerra dos Sete Anos (1756 a 1763) e Revolução Francesa (1792 a 1815). Na maioria dos casos, os países envolvidos foram Inglaterra e França.
Hobsbawm observa bem que, antes de ser conflitos entre nações, esses conflitos foram entre a "velha" e a "nova" ordem, entre a manutenção do que tinha então, e a luta pela chegada do novo. Inglaterra estava se modernizando desde a Revolução Gloriosa, e todas as lutas em que entrou, venceu. A única em que perdeu foi naquela em que a França se aliou aos EUA. Mas o resultado foi tão ou mais catastrófico para a França, visto que o apoio dado aos colonos provocou a Revolução Francesa...
Na última parte desse esboço sobre o mundo na época da "dupla revolução", Hobsbawm relata como a presença dos europeus ainda não era total, na África, no Oriente Médio e na Ásia. Mas, como ele mesmo lembra,
"Já então, a relativa fragilidade das civilizações não européias, quando confrontadas com a superioridade militar e tecnológica do Ocidente, era previsível. O que se chamou "a era de Vasco da Gama", ou seja, os quatro séculos da história do mundo em que um punhado de Estados europeus e de forças capitalistas européias estabeleceram um domínio completo, embora temporário - como é hoje evidente - sobre o mundo inteiro, estava para atingir seu clímax. A dupla revolução estava a ponto de tornar irresistível a expansão européia, embora estivesse também a ponto de dar ao mundo não europeu as condições e o equipamento para seu eventual contra-ataque."
Ou seja, o historiador nos dá o elemnto básico do que virá a seguir: Inglaterra e França promoveram a "dupla revolução" e, provavelmente, eram os únicos a possuir essas condições, no final do século XVIII e início do século XIX...
Síntese: páginas 46 a 48 (continua)
Imagem: Rei George III (1738/1820), pintado por Allan Ramsay (1713/1784).
sábado, 2 de outubro de 2010
Boulton, Watt e a Sociedade Lunar
Essa casa, na foto, é a Soho House. Ela foi projetada por Samuel Wyatt (1737/1807) em 1789, e pertenceu a Matthew Boulton (1728/1809).
Boulton era sócio de James Watt (1736/1819), na empresa Boulton & Watt, que durou mais de 120 anos (foi criada após a parceria dos dois, em 1775).
James Watt nasceu na Escócia, em 1736. Aos 18 anos, após a morte da mãe, dirigiu-se para Londres, a fim de estudar fabricação de instrumentos. Mas o clima londrino não lhe fez bem à saúde e em 1756 ele saiu da cidade, voltando à Escócia. Em 1758, com a ajuda de professores da Universidade de Glasgow, Watt teve condições de fazer experimentos com vapor, criando uma máquina a vapor em 1765.
Watt era patrocinado por Joseph Black e John Roebuck. Posteriormente, Roebuck faliu, e foi substituído por Matthew Boulton. Assim começou a parceria entre Watt e Boulton, que passaram a produzir máquinas a vapor para empresas. A primeira foi instalada em 1776. A sede era em Birminghan.
Na casa de Boulton, a Soho House, aconteceram muitas das reuniões da Sociedade Lunar.
A Sociedade Lunar foi um clube de discussão e sociedade científica informal composta por importantes industriais, filósofos naturais e inteletuais que se reuniam regularmente na cidade de Birmingham, Inglaterra, entre os anos de 1765 e 1813. Era inicialmente denominada "Círculo Lunar" até que em 1775 adotou o nome "Sociedade Lunar". Tal título remete ao fato de seus membros reunirem-se somente nos períodos de lua cheia, quando a maior luminosidade tornava o regresso para casa mais fácil e seguro na ausência de iluminação pública.
No endereço abaixo, você poderá ver a foto de uma estátua que fica no centro de Birminghan. Nela, estão representados Matthew Boulton, James Watt e William Murdoch (trabalhou com Boulton e Watt, em sua empresa).
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boulton,_Watt_and_Murdoch_Statue,_Birmingham.jpg
Boulton era sócio de James Watt (1736/1819), na empresa Boulton & Watt, que durou mais de 120 anos (foi criada após a parceria dos dois, em 1775).
James Watt nasceu na Escócia, em 1736. Aos 18 anos, após a morte da mãe, dirigiu-se para Londres, a fim de estudar fabricação de instrumentos. Mas o clima londrino não lhe fez bem à saúde e em 1756 ele saiu da cidade, voltando à Escócia. Em 1758, com a ajuda de professores da Universidade de Glasgow, Watt teve condições de fazer experimentos com vapor, criando uma máquina a vapor em 1765.
Watt era patrocinado por Joseph Black e John Roebuck. Posteriormente, Roebuck faliu, e foi substituído por Matthew Boulton. Assim começou a parceria entre Watt e Boulton, que passaram a produzir máquinas a vapor para empresas. A primeira foi instalada em 1776. A sede era em Birminghan.
Na casa de Boulton, a Soho House, aconteceram muitas das reuniões da Sociedade Lunar.
A Sociedade Lunar foi um clube de discussão e sociedade científica informal composta por importantes industriais, filósofos naturais e inteletuais que se reuniam regularmente na cidade de Birmingham, Inglaterra, entre os anos de 1765 e 1813. Era inicialmente denominada "Círculo Lunar" até que em 1775 adotou o nome "Sociedade Lunar". Tal título remete ao fato de seus membros reunirem-se somente nos períodos de lua cheia, quando a maior luminosidade tornava o regresso para casa mais fácil e seguro na ausência de iluminação pública.
No endereço abaixo, você poderá ver a foto de uma estátua que fica no centro de Birminghan. Nela, estão representados Matthew Boulton, James Watt e William Murdoch (trabalhou com Boulton e Watt, em sua empresa).
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Boulton,_Watt_and_Murdoch_Statue,_Birmingham.jpg
O Mundo na Década de 1780 - II
No post anterior, observamos alguns detalhes sobre a década de 1780, segundo a ótica do historiador Eric Hobsbawm. Entre outros detalhes, ele destacou que o mundo, naquela época, "era ao mesmo tempo menor e muito maior que o nosso", analisou os meios de transporte e de comunicação, as cidades provincianas, os fisiocratas e as três "grandes regiões agrárias" em que o mundo se dividia.
Ele nos apresentou um mundo não muito diferente desse que temos hoje, visto que muitos dos elementos que o compõem, já estavam ali presentes. Mas, sendo que o assunto em questão é a "dupla revolução" que aconteceu naquele tempo, os detalhes convergem para a questão econômica. Podemos sintetizar a realidade da época numa pequena frase:
"...embora a mineração e a fabricação estivessem-se expandindo rapidamente em todas as partes da Europa, o mercador (e na Europa Oriental também muitas vezes o senhor feudal) é que continuava fundamentalmente a deter o seu controle."
Lembremos que a Europa Oriental ainda praticava as relações feudais, no século XVIII e, em muitos lugares, essas relações chegaram ao século XX. O diferencial estava surgindo na Europa Ocidental que, desde a Baixa Idade Média praticava, cada vez mais, o comércio. Esse comércio desenvolveu-se, entre os séculos XVI e XVIII, com o "empurrão dado pelas Grandes Navegações, e agora dependia não só do trabalho do camponês e do artesão, mas também das manufaturas, que também foram se desenvolvendo.
Apesar disso, nesse período que Hobsbawm analisa, o mercador (Europa Ocidental) e o senhor feudal (Europa Oriental) ainda detinham o "poder", o "controle".
A indústria ainda estava se desenvolvendo, e o industrial nada mais era que seu "gerente". Apenas na Inglaterra, já se observava "industriais de respeito", como Josiah Wedgwood (1730/1795, ceramista inglês, avô materno de Charles Darwin).
Os iluministas também enalteciam a figura do "self-made-man racional e ativo", sendo Benjamin Franklin (1706/1790, jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, funcionário público, cientista, diplomata, inventor e enxadrista estadunidense) a personificação desse "novo homem" que estava surgindo.
Sociedades iam surgindo, com a finalidade de congregar esses homens de visão. Um exemplo que o autor cita é a Sociedade Lunar de Birminghan, que reuniu nomes como o próprio Wedgwood, James Watt (1736/1819, inventor da moderna máquina a vapor), Matthew Boulton (sócio de Watt), Joseph Priestley (1733/1804, "descobriu" o oxigênio), Erasmus Darwin (1731/1802, avô de Charles Darwin e escritor de diversos livros de medicina e botânica), John Baskerville (1705/1775, tipógrafo), entre outros.
Percebe-se que tanto na França (Voltaire, Montesquieu, Rousseau, etc.) como na Inglaterra (Darwin, Watt, Priestley, etc.), o espírito da época era o do empreendedorismo e o da diversificação de "dons": quase podemos imaginar esses notáveis senhores se reunindo, para debater idéias e "jogando os holofotes" (daí o "iluminismo") em seus pares, quando se destacavam em alguma atividade. O espírito da época impulsionava-os às descobertas, às invenções, à glória. Tendo dois avôs empreendedores, provavelmente não se esperava nada de Charles Darwin, a não ser a superação...
"Libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam era o seu principal objetivo: do tradicionalismo ignorante da Idade Média, que ainda lançava sua sombra pelo mundo, da superstição das igrejas (distintas da religião "racional" ou "natural"), da irracionalidade que dividia os homens em uma hierarquia de patentes mais baixas e mais altas de acordo com o nascimento ou algum outro critério irrelevante. A liberdade, a igualdade e, em seguida, a fraternidade de todos os homens eram seus slogans."
Os iluministas se congregavam principalmente na Inglaterra e na França, e pertenciam à classe média. Mas, era seu desejo "libertar" todas as classes sociais, no que talvez fossem um tanto ou quanto românticos. Também pretendiam "construir" uma sociedade onde a "igualdade" e a "fraternidade" fossem a norma. Na verdade, como o próprio Hobsbawm analisa, essa ideologia era mais revolucionária que prática, pois mudanças desse porte nunca se fariam de maneira natural. Não é por acaso que "liberdade, igualdade e fraternidade" tenham se tornado o lema da Revolução Francesa.
O desejo por progresso era crescente, e a "reforma da sociedade" como ela se apresentava, logo seria uma necessidade, para esses homens.
O "ancien règime" ("antigo regime") até tentou se "adaptar" aos novos tempos, ou até mesmo adaptá-los a si, na figura dos "déspotas esclarecidos". Mas, mesmo com toda boa vontade, esse sistema ainda era mais aprecido ao "ancien régime" do que ao que se esperava, em termos de progresso, de um governo "iluminista".
"Naquela época, os príncipes adotavam o slogan do "iluminismo" do mesmo modo como os governos de nosso tempo, por razões análogas, adotam slogans de "planejamento"; e, como em nossos dias, alguns dos que adotavam slogans em teoria muito pouco fizeram na prática, e a maioria dos que fizeram alguma coisa estava menos interessada nas idéias gerais que estavam por trás da sociedade "iluminada" (ou "planejada") do que na vantagem prática de adotar os métodos mais modernos de multiplicação de seus impostos, riqueza e poder".
Pelo que podemos observar, esses déspotas eclarecidos nada mais eram que monarcas que sentiram que a situação estava mudando, e que deveriam fazer algo para que não se mudasse tanto. Mas, assim como os senhores feudais, a nobreza e a Igreja, eles eram representantes de um sistema que já não satisfazia esses "novos homens" que estavam surgindo...
"A monarquia absoluta, apesar de teoricamente livre para fazer o que bem entendesse, na prática pertencia ao mundo que o iluminismo tinha batizado de féodalité ou feudalismo, termo mais tarde popularizado pela Revolução Francesa."
Fechando essa análise, Hobsbawm cita três "inimigos" dos monarcas de então:
"O que tornou estes regimes ainda mais vulneráveis foi que eles estavam sujeitos a pressões de três lados: das novas forças, da arraigada e cada vez mais dura resistência dos interesses estabelecidos mais antigos, e dos inimigos estrangeiros."
* Síntese: páginas 39 a 45 - Continua
* Imagem: Retrato de Benjamin Franklin (EUA), pintado por Joseph Duplessis (1725/1802), em 1778.
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