sábado, 27 de novembro de 2010
A Revolução Industrial - Parte IV
Antes de continuarmos a síntese do livro "A Era das Revoluções", de Eric Hobsbawm, seria bom entendermos algumas definições, próprias da História Econômica:
Antes de mais nada, a economia consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Essa definição é simples, mas abrange todas as atividades econômicas, desde algo simples como pescar um peixe (produção) até a compra de uma roupa num shopping (consumo).
As sociedades antigas produziam bens para uso próprio, e não para vender a outros. O Capitalismo nasceu da noção de que podemos obter lucro se vendermos algo que foi produzido, criado ou conseguido/conquistado por nós, a outra pessoa.
Tudo que possa satisfazer nossas necessidades é chamado de bem. Um peixe frito ou uma camisa de tecido caro são bens.
Aí é que aparece uma pequena divisão: existem bens de capital e bens de consumo.
O peixe frito e a camisa cara são bens de consumo. Mas foram necessários outros instrumentos para se conseguir esses bens de consumo: a vara de pesca, a frigideira (para fritar o peixe), a máquina que colheu o algodão e a outra que o transformou em tecido, e ainda uma terceira que fez com que o tecido "virasse" uma camisa cara...Esses instrumentos são chamados de bens de capital.
E é nesse entendimento que entra o comentário de Hobsbawm:
É evidente que nenhuma economia industrial pode-se desenvolver além de um certo ponto se não possui uma adequada capacidade de bens de capital. Eis por que, até mesmo hoje, o mais abalizado índice isolado para se avaliar o potencial industrial de qualquer país é a quantidade de sua produção de ferro e aço.
Mas, por que ele começou essa parte do livro com essa explicação? Porque, diferente da produção dos bens de consumo, não existe um grande mercado para bens de capital, a não ser, como diz o autor, que haja uma "revolução em curso". Isto significa que você pode pescar 20 peixes, ou até comprá-los. Mas vai precisar de apenas uma frigideira para fritá-los. Então, o mercado de peixes (bens de consumo) tem mais procura e é mais rentável que o mercado de frigideiras (bens de capital).
A mudança começou a acontecer graças, primeiramente, ao carvão:
...o carvão tinha a vantagem de ser não somente a principal fonte de energia industrial do século XIX, como também um importante combustível doméstico, graças em grande parte à relativa escassez de florestas na Grã-Bretanha.
Em 1800, a Grã-Bretanha deve ter produzido perto de 10 milhões de toneladas de carvão, ou cerca de 90% da produção mundial. Seu competidor mais próximo, a França, produziu menos de um milhão.
É óbvio que esse carvão não era encontrado nas proximidades das cidades. Muitas vezes, era necessário ir buscá-lo em regiões distantes, e o transporte era difícil, pelas estradinhas de terra do interior inglês...É nesse momento que se criou uma solução, que acabaria por impulsionar ainda mais a Revolução Industrial:
Esta imensa indústria, embora provavelmente não se expandindo de forma suficientemente rápida rumo a uma industrialização realmente maciça em escala moderna, era grande o bastante para estimular a invenção básica que iria transformar as indústrias de bens de capital: a ferrovia.
A princípio, criaram-se trilhos e vagonetes para fazer o transporte do carvão do fundo das minas até a superfície. Mais tarde, começaram a ser criados trilhos que ligavam um ponto a outro, carregando esse carvão. E, para se começar a usar esses mesmos trilhos para transportar outras mercadorias, e até pessoas, foi apenas questão de tempo...
...os custos do transporte terrestre de grandes quantidades de mercadoria eram tão altos que provavelmente os donos de minas de carvão localizadas no interior perceberam que o uso desse meio de transporte de curta distância podia ser estendido lucrativamente para longos percursos.
O aumento do volume da produção de mercadorias e a necessidade de transportá-las, com rapidez, para os mercados consumidores, fizeram com que os empresários ingleses dessem apoio a George Stephenson (1781-1848), que apresentou sua primeira locomotiva em 1814.Foi o primeiro que obteve resultados concretos com a construção de locomotivas, dando início à era das ferrovias.
(http://www1.dnit.gov.br/ferrovias/historico.asp)
A linha entre o campo de carvão de Durham e o litoral (Stockton-Darlington 1825) foi a primeira das modernas ferrovias.
As primeiras pequenas linhas foram abertas nos EUA em 1827, na França em 1828 e 1835, na Alemanha e na Bélgica em 1835 e até na Rússia em 1837.
Foi uma rápida evolução e que serviu para acelerar ainda mais a Revolução Industrial. Até o século XIX, o principal meio de transporte era o barco e o navio, e a maioria das pessoas morava no litoral. A partir da invenção das ferrovias, as populações poderiam residir no interior, também. Essa é outra característica da Revolução Industrial, que foi conquistada pela ferrovia.
Nas primeiras duas décadas das ferrovias (1830-50), a produção de ferro na Grã-Bretanha subiu de 680 mil para 2.250.000 toneladas, em outras palavras, tripli- cou. A produção de carvão, entre 1830 e 1850, também triplicou de 15 milhões de toneladas para 49 milhões. Este enorme crescimento deveu-se prioritariamente à ferrovia, pois em média cada milha de linha exigia 300 toneladas de ferro só para os trilhos.
Em 1830 havia cerca de algumas dezenas de quilômetros de ferrovias em todo o mundo - consistindo basicamente na linha Liverpool-Manchcster. Por volta de 1840 havia mais de 7 mil quilómetros, por volta de 1850 mais de 37 mil.
Se uma outra forma de investimento doméstico podia ter sido encontrada - por exemplo, na construção - é uma questão acadêmica para a qual a resposta permanece em dúvida. De fato, o capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, especialmente na metade da década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois de imediato as ferrovias resolveram virtualmente todos os problemas do crescimento econômico.
Síntese: páginas 70 a 76 (continua)
Imagem: Locomotiva de Stephenson
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